PRESERVAÇÃO FERROVIÁRIA

A preservação da memória ferroviária brasileira tem ganhado espaço nas últimas duas décadas. Atualmente, só no Estado de São Paulo, existem 15 associações dedicadas a esta missão, além de 13 museus municipais espalhados por todo território paulista. Entre os bens de reconhecido valor histórico, são mais de 200 itens entre estações, oficinas, armazéns, residências, pontes, locomotivas, vagões e carros de passageiros tombados nas esferas federal, estadual e municipal.

Mas esta prática vem de longa data, ainda que de forma bastante tímida!

Vista do jardim das oficinas da Paulista em Jundiaí. À direita a locomotiva Nº 1, onde permaneceu até 1994.
(Acervo APESP)

No Estado de São Paulo, o primeiro bem preservado de que se tem notícia foi a locomotiva Nº 1 da Companhia Paulista, retirada da sucata em 1918 por iniciativa da própria Estrada. Passados alguns anos foi colocada no jardim das oficinas de Jundiaí. Entre 1948 e 1950 a Sorocabana resgatou e restaurou a sua locomotiva Nº 10, instalando-a defronte às oficinas de Sorocaba.


Na década de 1960 outras ferrovias seguiram o mesmo caminho, seja pela preservação de bens isolados ou pela organização de museus, os primeiros no estado, tal como fez a Companhia Mogiana, que chegou a montar um museu em Campinas, e a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí que, em 1967, comemorando seu primeiro centenário, inaugurou o Museu Ferroviário Nacional no primeiro edifício da estação da Sorocabana em São Paulo.

Mas somente nos anos de 1970 que a preservação do patrimônio ferroviário extrapolou os limites das próprias ferrovias. Este movimento se deu no contexto da formação da Fepasa, que extinguiu as companhias existentes desde o início da implantação das estradas de ferro no país, e do fim da tração a vapor e do uso de carros de madeira. Em 1974 foi tombada pelo Condephaat a estação Bananal. Na década seguinte outras estações receberam o mesmo tratamento, além de uma ferrovia inteira, a E. F. Perus-Pirapora, tombada em 1987.

Parte do edifício da primeira estação da Sorocabana, à esquerda, e vista parcial da exposição no Museu Ferroviário Nacional, à direita.
(col. Rafael P. Corrêa / Arquivo DNIT SRE-SP)

Estação da Companhia Paulista em Campinas fotografada em 1982, ano em que foi tombada pelo Condephaat. (foto: Alberto H. Del Bianco)

Locomotivas da E. F. Perus-Pirapora no depósito de Cajamar em janeiro de 1975. Todo acervo da ferrovia foi tombado pelo Condephaat. (foto: Fábio Dardes)

Em 1980 a RFFSA restaurou a locomotiva a vapor nº 353 para uso em eventos e viagens especiais, como visto na imagem, em direção à Paranapiacaba (foto: Fábio Dardes, 07/1982)

Entre 1979 e 1994 as oficinas de Jundiaí abrigaram o Museu Barão de Mauá, criado pela Fepasa com intutito de preservar a memória de suas formadoras. (foto: Luis Carlos Bellotto, 1983)

Em 1977, por iniciativa do francês Patrick Dollinger, foi fundada em São Paulo a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – ABPF. Depois de quatro anos iniciava sua operação na antiga linha tronco da Mogiana, entre Campinas e Jaguariúna, cedida pela Fepasa.

Primeira viagem experimental da ABPF no trecho entre Campinas e Jaguariúna, ocorrida em 22 de fevereiro de 1981.  (foto: Sergio Martire)

Chegada do “trem especial da Nestlé” ao pátio de Jaguariúna, local em que inicialmente foi acomodado o material rodante recebido. (foto: Fábio Dardes, 1981)

O final da década de 1990 trouxe um novo rumo para o setor ferroviário. A concessão do serviço de cargas para o setor privado e o fim do serviço de transporte de passageiros deram uma nova perspectiva à preservação da memória ferroviária. Nos últimos 20 anos foram tombados em diferentes esferas quantidade nunca vista de bens imóveis e concluído o primeiro processo dedicado a locomotivas e vagões. Neste mesmo período foram abertos novos museus, em parte aproveitando espaços em estações desativadas.

A ABPF, que já contava com outros trechos preservados, também fora do Estado, ampliou suas operações colocando a preservação ferroviária como uma atração turístico-cultural bastante procurada. Concomitantemente, novas entidades foram fundadas, entre elas o MPF-Sorocabana.

A Associação Movimento de Preservação Ferroviária do Trecho Sorocabana foi constituída em maio de 2014 com a missão de resgatar, promover e perpetuar a memória ferroviária de Sorocaba e região através da pesquisa histórica e da preservação de bens da Estrada de Ferro Sorocabana e da Estrada de Ferro Elétrica Votorantim.

Para este fim mantém aqui, na estação Paula Souza, o Centro de Memória Ferroviária “Engenheiro Calixto de Paula Souza”, que já dispõe de um rico acervo, constituído de 28 veículos entre locomotivas, carros de passageiros, vagões e outros, fabricados entre 1891 e 1968. Com este acervo opera esporadicamente o “Trem dos Operários”, viagem turística entre Sorocaba e Votorantim feita com a locomotiva a vapor nº 58.

 

Primeiro teste com a locomotiva nº 58, realizado como parte das comemorações do aniversário de Sorocaba. A ela atrelado, o carro Correio-Bagagem EF 401, então recém pintado. (foto: Rubens Ueda, 15/08/17)

Vista da esplanada da Paula Souza. Em destaque, três gerações de locomotivas da antiga Sorocabana, integradas ao acervo do Centro de Memória Ferroviária. (foto: Vanderlei Zago, 04/2019)