Nos primeiros anos de atividade a Estrada de Ferro Sorocabana contava com um modesto número de veículos de pequeno porte, com caixa e estrado construídos em madeira, dedicados a um movimento incipiente de passageiros. Eram carros de passageiros de dois eixos com acesso por portas laterais, construídos conforme o padrão adotado pelas primeiras ferrovias do mundo, inspirados em carruagens. Um conjunto tímido para uma população ainda pequena. Eram cerca 850 mil habitantes no estado e 40 mil na capital.
Carros de dois eixos em foto na estação de George Oetterer feita em 1877. (Julio Durski, Arquivo Nacional)
Carro de primeira classe tipo “americano”. (col. Rafael Prudente Corrêa)
Com o crescimento da malha ferroviária, novas fronteiras agrícolas se abriam, novos núcleos urbanos se formavam, outros já existentes cresciam e a facilidade de transporte nunca antes vista promoveu um rápido crescimento da atividade econômica e da população de São Paulo. Na virada do século XX a população paulista já ultrapassava os 2,2 milhões e, acompanhando essa evolução, os pequenos carros de dois eixos davam lugar a carros maiores, também construídos em madeira, providos de truques, corredor central e acesso pelas cabeceiras, conforme o padrão norte-americano.
No início dos anos de 1920 a população já era superior a 4,5 milhões e a Sorocabana já alcançava cerca de 1.800 quilômetros de vias férreas com relevante participação na integração nacional. Além de ligar a capital paulista com o extremo oeste do estado, passando por zona fértil e núcleos urbanos já desenvolvidos, exercia por meio dos entroncamentos com a Rede de Viação Paraná – Santa Catarina, com a Companhia Mogiana e com a E. F. Noroeste do Brasil, uma função estratégica na ligação entre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
(arquivo: DNIT SRE-SP)
O crescimento populacional e a evolução de sua malha férrea com suas respectivas conexões impactaram diretamente no transporte de passageiros, exigindo constantemente esforços para promover o aumento e a modernização da frota de carros e locomotivas. Em 1905 contava a Sorocabana com 101 carros de passageiros e cerca de 80 locomotivas, também usadas nos trens de carga, passando em 1925 a ter 244 carros e 259 locomotivas.
Vista externa e interna de um carro de primeira classe de fabricação Busch. (col. Rafael Prudente Corrêa)
O aumento significativo do transporte de passageiros nos primeiros anos da década de 1920 motivou uma das mais significativas aquisições de novos carros feita pela Sorocabana. Em 1926 começaram a circular os primeiros exemplares fabricados pela alemã Waggonfabrik Busch de uma encomenda de 97 unidades, a última composta por carros construídos em madeira, sendo, entretanto, os estrados fabricados em aço.
Neste mesmo ano, 79 trens de passageiros circulavam em média, diariamente, cobrindo toda a malha da Sorocabana. Além dos serviços de primeira e segunda classe, os trens com percursos mais longos, principalmente os que circulavam pela linha tronco e pelos ramais de Bauru, Campinas e Itararé, levavam carros restaurantes; os noturnos, carros dormitórios, além de outros ditos especiais.
Exemplo de carro especial. (col. Rafael Prudente Corrêa)
Apesar da queda do movimento de passageiros devido ao período de instabilidade econômica e política vivido entre 1929 e 1932, quando se deu a quebra da bolsa de Nova Iorque, o golpe de 1930 que levou Getúlio Vargas à presidência e a Revolução Constitucionalista, os anos que se seguiram voltaram a registrar novos recordes de transporte. Em 1936 a Sorocabana chegou a transportar mais de 5,4 milhões de passageiros em 111 trens diários (média), com uma frota de 316 carros e 304 locomotivas.
Tipico trem de passageiros das décadas de 1920 e 1930 em foto de 1939 feita na gare da estação Júlio Prestes. (col. Rafael Prudente Corrêa)