EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

O que é?

A Educação Patrimonial é uma metodologia de caráter permanente e sistemático que busca contribuir para a valorização do patrimônio cultural nas suas diferentes manifestações (HORTA et al. 1999). Seu intuito é estimular não apenas a conservação física de bens patrimoniais, como também sua vida simbólica, trabalhando as memórias em contraste e composição com questões contemporâneas. Pretende, neste aspecto, incitar relações de afeto entre sociedades locais e seus patrimônios, servindo como ferramenta de mediação entre eles.

Como Surgiu?

Até meados dos anos de 1960, grande parte das práticas educativas tiveram foco na criação de instituições museológicas e no incentivo a exposições, a publicações técnicas e a veiculação de divulgação jornalística, além do tombamento de coleções, acervos e monumentos, com intuito de sensibilizar o público sobre a importância e o valor do patrimônio histórico.

A partir da criação do Centro Nacional de Referência Cultural – CNRC as discussões sobre preservação e a educação em museus ganharam outra dimensão, com uma proposta de interlocução mais abrangente e interdisciplinar entre processos educacionais e preservação patrimonial. A partir de meados dos anos de 1980, os debates dedicados ao desenvolvimento de ações educativas voltadas para o uso do “patrimônio como fonte primária de conhecimento”, com vistas à preservação dos “bens culturais”, ganharam uma forma mais concreta e sistemática.

Como acontece?

Ações integradas de Educação Patrimonial constituem-se como atividades pedagógicas que partem do pressuposto de que as manifestações da cultura, cuja natureza é constituída de múltiplos significados, no tempo e no espaço, podem e devem ser tomadas como ponto de partida para que o público reflita sobre o encadeamento de histórias e contradições condensadas nos bens culturais. Com isso, tais atividades contribuem para o “fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania”.

Foto: Rubens Ueda (7/2017)

Ação de Educação Patrimonial no município de Tapira/MG.
(acervo Arqueologika)

Para que isso aconteça cabe aos educadores provocar situações que possibilitem uma experimentação do patrimônio através da observação, apropriação, contextualização, e recriação das evidências culturais. A partir desta experiência e de posteriores levantamentos de hipóteses, das discussões com os colegas, e das pesquisas em outras fontes, o público estará estimulado a desenvolver um conjunto de habilidades essenciais para que possa lidar com as mais diversas questões da contemporaneidade, entre elas a importância em se desenvolver ações de preservação sustentável dos bens culturais.

O diálogo que está implícito nesse processo educacional estimula e facilita a comunicação e a interação entre as comunidades e os agentes responsáveis pela preservação e estudo dos bens culturais, a troca de conhecimento e a formação de parcerias para a proteção e valorização desses bens.

A Educação Patrimonial e o “Ouro Verde”

Salvar o “Ouro Verde” é preservar todas as memórias contidas em cada carro que o compõe e como conjunto.

Como vimos nesta exposição, até aqui e nos painéis que a encerram, como “bem cultural” este trem expressa múltiplos significados, que vão desde sua concepção na fábrica alemã, lá em meados do século XX, até a dedicação para regatá-lo no início do século XXI.

Neste espaço temporal, evidenciaram-se os esforços empreendidos em adquiri-lo, em mantê-lo em funcionamento e em adaptá-lo para outras atividades. Destaca-se, principalmente, a função exercida ao longo de toda sua trajetória no serviço de passageiros como agente provedor de relações sociais, marcado na memória afetiva daqueles que dele tiraram o seu sustento e de suas famílias, que proporcionaram sua vinda para o Brasil e que tiveram por meio dele a oportunidade de encontrar parentes, amigos, novas perspectivas profissionais e de ter novas experiências. Esta vivência está representada no relato de dona Cida Moreira, publicado em uma página do Facebook na véspera do Natal de 2014:

“A imagem mais forte dos meus muitos natais veio hoje, recorrente… meu pai mandava no trem Ouro Verde, da Sorocabana, em Paraguaçu Paulista onde graças a Deus passei minha infancia ,um lindo peru vivo, vindo da fazenda, no Paraná, num caixote feito sob medida, com aberturas corretas, prás minha tias fazerem aqui, no natal da capital… eu fui várias vezes com ele na estação fazer isso… Isso era Natal… disponibilidade, afeto, carinho… Elas pegavam o bicho na manhã seguinte de táxi, na estação… e a ceia era feita em torno deste peru saudável, criado solto na fazenda… como diz Phillip Roth… não tenho saudades… tenho lembranças… que não tem preço… Bom Natal a todos…”

Manutenção de rodeiros nas oficinas de Sorocaba, à esquerda.
(col. Rafael Prudente Corrêa, dec. 1970)
Viagem em um carro de 1ª Classe do antigo “Ouro Verde”, à direita.
(foto: Adalberto Benites, Brigadeiro Tobias, dec. 1970)

As perspectivas educativas associadas à presente exposição buscam estimular o compartilhamento de novas histórias, valorizando as materialidades do “Ouro Verde” a partir de todo o significado simbólico que carregam. Trata-se de exercícios educativos que visam inspirar novos relatos como o de dona Cida Moreira, que ao ativar suas memórias propiciou um mergulho em outras dimensões relacionadas à ferrovia. Trata-se também de um caminho de promoção da inclusão e integração social, bem como em sua existência como ferramenta transformadora em favor dos direitos à voz e à memória.