Estamos no carro de Segunda Classe nº C 204!
Quando elaborado o plano de aquisição de veículos para compor o “Ouro Verde”, foram encomendadas oito unidades deste tipo, numeradas de C 201 a C 208, cada uma com capacidade para 84 passageiros.
Representam um terço da encomenda feita na Alemanha entre todos os tipos adquiridos. O volume expressivo se justifica pela maior demanda em relação aos demais serviços, como se vê na estatística de 1936, ano anterior a encomenda, quando foram vendidas cerca de 4,5 milhões de passagens de segunda classe contra 964 mil de primeira.
O serviço de segunda classe, destinado ao passageiro de menor poder aquisitivo, oferecia acomodações mais simples, refletindo diretamente na concepção interna dos carros. Bancos menores e em maior quantidade, sem estofamento e estáticos, além da existência de apenas um banheiro estão entre as principais características.
Externamente, se diferencia dos carros de Primeira Classe pelo número e disposição das janelas, uma para cada par de bancos.
Interior do carro C-206.
(Reprodução do livro “Trem das Onze: a poética de Adoniran Barbosa”; foto Henri Ballot / Instituto Moreira Salles)
Comparativo entre as vistas externa e interna do carro de Segunda, à esquerda, e de Primeira Classe, à direita. (Col. Rafael Prudente Corrêa)
As instalações mais modestas e a maior capacidade de transporte por unidade são fatores relevantes para a composição da tarifa que, em média, era 35% mais barata que a da Primeira Classe.
Horário de 1939 (Arquivo DNIT SRE-SP)
“(…). Os carros de 2ª classe, apesar de serem, quanto à estrutura, iguais aos de 1ª, têm, como é natural, um acabamento mais pobre, principalmente os assentos, que são de madeira, afim de evitar que sejam rapidamente danificados. Nada, entretanto, impede que, futuramente, sejam substituídos por assentos de tubos cromados, com revestimento de pano-couro.”
(Relatório Anual da Estrada de Ferro Sorocabana, 1937)
Apesar de registrada a intenção de futura melhoria nos assentos, nem a Sorocabana, nem a Fepasa, fizeram esta intervenção, sendo mantida a característica construtiva original até serem retirados do serviço de passageiros.
Os carros de Segunda Classe do “Ouro Verde” permaneceram em serviço comercial por quase 40 anos. Com a erradicação de grande parte dos trens de passageiros promovida pela Fepasa em fevereiro de 1977, ficaram ociosos e parte considerável foi sucateada.
As unidades remanescentes foram adaptadas para uso próprio da ferrovia. Foi o caso do C 204 que, em 1984, foi adaptado para uso do pessoal da via permanente em Botucatu, ocasião em que recebeu a atual numeração, QC 4429.
Exemplos de carros do “Ouro Verde” de 2ª Classe no período da Fepasa: o antigo carro nº C 208 com o primeiro padrão de pintura da nova empresa fotografado no pátio de Assis em abril de 1975. (foto: Fabio Dardes)
O antigo carro nº C 205 adaptado como cozinha do trem de socorro de Sorocaba, fotografado no pátio de Mairinque em maio de 1990. (foto: Sergio Martire)
Dimensão do letreiro de identificação, feito em alto relevo. (arquivo DNIT SRE-SP)
Planta dos bancos usados nos carros de 2ª Classe, construídos em madeira. Mais curtos que os bancos usados na Primeira Classe, contribuiram para melhorar a circulação interna.
(arquivo DNIT SRE-SP)