Estamos no carro Dormitório-Salão nº BDL 202!
Quando elaborado o plano de aquisição de veículos para compor o “Ouro Verde”, foi incluído no pedido oito unidades de fato concebidas para o serviço noturno. Entre elas seis carros Dormitório e dois Dormitório-Salão.
Como definido pela própria nomenclatura, a diferença entre eles está na existência de um salão. O convencional foi equipado com sete cabines, cada uma com dois leitos, enquanto o tipo salão recebeu cinco cabines, também com dois leitos cada, reservando espaço para um salão munido de dez poltronas. Desta forma, enquanto o tipo comum levava 14 passageiros, ao salão caberia o transporte de 10, entretanto, oferecendo mais um item de conforto, as poltronas, uma para cada viajante, mediante pagamento de tarifa diferenciada.
Vista interna do carro Dormitório (acima) e do Dormitório-Salão (abaixo). (col. Rafael Prudente Corrêa)
Tarifas publicadas no horário de 1939 (Arquivo DNIT SRE-SP)
Vista geral externa e interna com medidas básicas.
(Arquivo DNIT SRE-SP)
Desde sua inauguração nas linhas da Sorocabana em 1910, o serviço de trens noturnos teve grande procura do público. Entre as principais vantagens para o passageiro constava o fato de que as morosas viagens ainda feitas com pequenas locomotivas a vapor se tornavam menos cansativas a noite, seja pela temperatura amena, seja pela mudança da percepção do tempo durante o sono. Para a ferrovia era igualmente vantajoso, pois o serviço de passageiros diurno tinha prioridade de circulação, reduzindo a oferta de espaço para os trens de carga. A noite esta lógica era inversa.
A medida em que eram adquiridas locomotivas mais rápidas o tempo de percurso sofria poucas alterações, mas a distância percorrida era elevada, permitindo estender o serviço a mais municípios. Assim, os trens noturnos com seus carros Dormitório fizeram grande sucesso até o início dos anos de 1970.
Ambos os carros Dormitório-Salão do “Ouro Verde”, assim como os Dormitórios convencionais, permaneceram em serviço comercial por quase 40 anos. Com a erradicação de grande parte dos trens de passageiros promovida pela Fepasa em fevereiro de 1977, ficaram ociosos e parte considerável foi sucateada. Entretanto, o BDL 202, já renumerado pela Fepasa como 3428, foi um dos poucos carros de aço carbono da antiga Sorocabana mantidos no serviço de passageiros, provavelmente devido à utilização em trens administrativos.
O BDL 202 em trem especial, com a pintura da Fepasa e nova numeração, fotografado no pátio da Barra Funda em 1974.
(foto: Sergio Martire)
Trem administrativo formado pelos antigos carros R 403, DL 203 e BDL 202 na viagem inaugural do “Trem do Cobre”.
(foto: Sergio Martire, Barra Funda, 1974)
Em 1978 foi reclassificado como “Diverso”, ocasião em que recebeu o número 3064 e foi incorporado ao trem de socorro sediado em Botucatu junto com outros dois carros da Sorocabana que, junto dele, faziam trens administrativos. Em 1979 foi alterado para AC 3064 e, em 1983, recebeu a atual numeração, QC 4404.
Detalhes da montagem da pia das cabines.
(Arquivo DNIT SRE-SP)
Vista interna da cabine com a locação dos leitos. Para dar privacidade aos passageiros, o leito de baixo era munido de uma cortina fixada no de cima que, por sua vez, tinha uma contenção dobradiça rígida, fixada no teto, que também o impedia de cair.
(Arquivo DNIT SRE-SP)